Erbson Cardoso
Tinha um corpo estendido no chão.
Era um corpo roxo de mulher...
Desnudo em vida, desnudo na morte
Desnudo de direitos enquanto caminhava...
Silenciado de uma vez por todas
Agora que estava ali, atirado ao chão...
Era um corpo sem rosto, sem nome, sem...
Os olhares curiosos já não incomodavam...
Acostumado fora a ser devassado, estrangulado,
Por dedos, tapas, beijos que não queria, palavras que doíam,
que cortavam como navalha a vagina...
a vagina perscrutada,
acusada,
acuada
ensanguentada
Agora que estava ali. Estendido, seria finalmente Alguém?
Não. Só mais uma dentre tantas. Estatística, não mais que isso.
Era um corpo de muitos rostos, tantas histórias...
Só mais um numero no obituário,
Diário...
Horário...
Era um corpo que havia gritado
Muitas vezes no silêncio sufocado
Angustiado...
Ah, deve ter aprontado!
Olha como se vestia o diabo!
Se estivesse em casa, no lar,
Mas deve ter saído para dar,
E o velho corolário
Como um rosário
No desfiar
De rótulos,
De Puta a
Feminazi
De puta
A Eva
Mas Sempre puta,
Já nascera culpada,
Tinha um corpo estendido no chão
Rígido, despetalado, vazio...
Mas prenhe de sentimentos
Sentidos
Significados
E amanheceres
De seres
Ser
Adubo da luta,
Não precisava ser assim!!!!
Ser Adubo na luta!
E do sangue que escorre
Entre as pernas daquele corpo de mulher
Amanhecerá...
Amanhã será
Vermelho menstruação
Vermelho VIDA
Vermelho Revolução!
Erbson Cardoso é diretor da rede estadual de educação e ativista social.
Que poema forte, toca fundo em medos, magoas e revoltas…