A HUMILHAÇÃO É ORIUNDA E ESTRUTURANTE DA PALMITAGEM
Valéria Sales
Isso não é sobre quem você namora, não é sobre seu/sua companheiro/a que adora cultura negra. Ao contrário do que eles pensam, o mundo não está prostrado diante da brancura deles.
Eu acredito num projeto de mundo pluriversal e diverso. Mas ao contrário do que a internet parece acreditar o que chamamos de palmitagem (os relacionamentos interraciais) não tem a ver com relacionamentos afetivos, amorosos e sexuais apenas. Eles têm menos a ver com as relações e mais a ver com o mundo onde essas relações se organizam.
A gente reduziu um debate que já foi sobre políticas públicas de embranquecimento em briga onde nosso ressentimento com medo do abandono e da solidão tomaram um lugar que não devia. Nossos traumas precisam ser resolvidos nos espaços de cuidado da saúde mental e espiritual, já nossos debates sobre política precisam ser feitos com seriedade, foco e estratégia.
Quero falar sobre a humilhação que é oriunda e estruturante da palmitagem.
Falo disto:
Uma rapper negra se humilhou em rede nacional diversas vezes para ganhar a aceitação afetiva/sexual de um homem branco. Não atrás dela, um jovem negro, também rapper, defendeu com unhas e dentes sua barbie loira e após comprar uma briga pública com ativistas negros acabou por ser traído.
Humilhação.
Fanon diz:
“…este temor, esta timidez, esta humildade do negro nas suas relações com a branca…” p. 63
ou
“O problema é saber se é possível ao negro superar seu sentimento de inferioridade, expulsar de sua vida o caráter compulsivo, tão semelhante ao comportamento fóbico. No negro existe uma exacerbação afetiva, uma raiva em se sentir pequeno…” p. 59
ou a clássica:
“A cidade do colonizado é uma cidade acocorada, uma cidade ajoelhada, uma cidade acuada.” p. 29
Humilhação.
A questão aqui, não é se você anda ou não com pessoas brancas. A questão aqui é: essas pessoas tem noção do lugar que ocupam no mundo quando estão diante de você? Elas sabem que lugar você ocupa no mundo?
Exemplo:
Um grupo de amigos brancos e ricos chamam você, negro e pobre pra jantar… Eles tem dimensão de que o único negro no espaço além dos garçons é você?
Valéria Sales é graduanda em Licenciatura em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), administra o perfil no Instagram @ser_estar_preta, que aborda pautas antirracistas, além de integrar projeto de pesquisa da Juventude Sul Baiana.
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