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POESIA | MANTO SAGRADO

Elias Carlos Arakuã Ete

Retrato imaginário de Madalena Caramuru, inspirada em Glicéria Tupinambá, 2020. Autoria: Sophia Pinheiro

Não me fale de manto,

se voce se mantém o mesmo, a mesma,

de ontem, anteontem.

E hoje, não se esforça em pensar em mudar.

Mesmo vendo-o crucificado,

o amor na morte da cruz,

assim como na hóstia sagrada

que se torna Jesus.

Para aqueles que aqui chegaram

invadindo nossos territórios, trazendo a bíblia, a espada e a cruz

e para alguns parentes também,

que rezando ave maria e o

pai nosso, amém.

Daí, para nós o sagrado

há muito já existia.

Desde nossos rituais, Torés, Porancis que todos nossos povos indígenas já reverenciavam e viviam

junto aos nossos pajés,

que com muito amor e devoção

celebravam o sol, o ar, a chuva,

o mar, o criador, do nosso jeito.

Por isso, peçamos mais respeito.

Por mim, por nós e nossos ancestrais,

que souberam guardar no silêncio o segredo

com todo amor e cuidado,

assim como dona Amotara,

nos ensinou a contemplar

aquele manto sagrado,

feito de pena de guará

de nosso povo indígena Tupinambá.



Elias Carlos Arakuã Ete Tupinambá é licenciado em História pela UESC, técnico em Contabilidade e professor indígena no Colégio Estadual Indígena Tupinambá de Olivença (CEITO) em Ilhéus BA.

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