Caio Pinheiro
As eleições municipais estão logo ali; bem pertinho, quase na esquina. Se você esticar a cabeça, é possível vê-las! Mas parece que algo de errado está a rondar. A um observador político atento, soa incômodo o silêncio dos compatriotas diante do pleito eleitoral que se avizinha. Há quem diga que a proximidade da folia momesca é o real motivo dessa apatia. Parece que o carnaval - momento do “pão e circo” - é capaz de gerar uma felicidade artificial de tal monta, que diante desta todas as iniquidades geradas pela negligência do poder público municipal são colocadas convenientemente no esquecimento. Tudo fica para depois do carnaval!
Então, falar de política antes do carnaval, pela lógica acima, seria coisa de gente inconveniente, desnecessária, inoportuna, inadequada e sem noção. Mas aviso aos navegantes de boa-fé que há quem esteja nesse exato momento sentenciando nosso futuro político falando e fazendo política. De Norte a Sul todos os espectros políticos se articulam. Lideranças e líderes cientes da importância das eleições municipais, engendram maneiras de contemplar os sonhos e as insatisfações dos eleitores e assim conquistarem seus votos, mesmo que em muitos casos esgacem os limites da constitucionalidade democrática.
Isto posto, caro leitor, é hora de formar sua convicção política, do contrário será pego facilmente pelo “efeito da pedra no lago”. E antes que me pergunte o que é esse diacho de “efeito da pedra no lago”, explico. Quando jogamos uma pedra no meio de um lago de águas paradas, essa gera ondas concêntricas que repercutem em toda extensão do lago. Se transpomos essa metáfora para a política, teríamos o efeito manada, quer seja: quando a maioria dos eleitores se movimenta acriticamente em favor de um nome apontado como única alternativa viável. Isso seria perigoso?
O passado recente nos mostra que ao terceirizarmos a compreensão da política – independentemente do campo político-ideológico com o qual se identifique -, submetemos nosso voto ao império das conveniências e achismos oportunistas. Veja, em todos as quadras da política há gente bem intencionada, porém não basta alça-las ao poder, é preciso ter ciência dos projetos que estas representam, e para isso, torna-se imprescindível estarmos convictos das escolhas políticas que fazemos.
Formemos nossas convicções políticas, pois tê-las, implica não tender às conveniências. Veja, caro leitor(a), todos (as) (es) podem e devem ter convicções acerca da política. Não esqueça que formar convicções é um atributo peculiar ao Homo Sapiens. Essa competência se relaciona ao fato de sermos animais racionais, e, portanto, portadores de intelecto e razão. Porém há uma premissa básica as ser considerada na formulação dessa tal consciência política: aceitar sem refletir não é uma conduta humanamente satisfatória e nem de gente politicamente consciente e convicta!
Isto posto, oportuno é lembrar do que disse Chico Science: “o futuro é agora”! Daí o debate deve ser iniciado, pois o amanhã, imperioso, está logo ali. E se quisermos ter algum protagonismo na construção do nosso amanhã, precisamos considerar as variáveis que justificam nossa responsabilidade no porvir. Do contrário, na guerra de protagonismos, os interesses dos mais destituídos de protagonismo continuarão um lapso de possibilidade, e, ao tempo, passíveis de manipulação por projetos políticos poucos dignos.
Preâmbulos a parte, por aqui encerro essa genérica crônica da vida constitucional e politicamente adulta. Aliás, falar genericamente é sempre mais conveniente, ou melhor, cômodo. Mas esse não foi o “que” que adverbiou o tecer das palavras que até esse canto já se fizeram pregressas e das que sucederão na sua mente pelas que aqui soletrou. Do contrário, sem perder a consciência da falibilidade de todo e qualquer ponto de vista, desejei apresentar o meu - hoje temperado com floaters de indignação - sobre o nosso excesso de pouca consciência e convicção política, no momento em que a deveriam tê-las em excesso.
Axé!
Caio Pinheiro é historiador, educador, escritor e militante do Movimento Negro.
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