Jovens artistas sulbaianos se utilizam da música para falar sobre a realidade de violência, racismo e misoginia no Brasil, especialmente na região de Itabuna-BA.
Helenna Castro
O Coletivo Omí (@coletivoomi) foi formado em 2019 pelos artistas itabunenses Vitor Andrade (26) e Laryssa Oliveira (24), e pela ilheense Natália Santos (26). Sua primeira música, intitulada Falsa Meritocracia, foi lançada em 2020, quando descrevem que o grupo “deslanchou”. Os três produtores culturais possuem experiências diversas com a música. saDan, como é conhecido Vitor, é estudante de Bacharelado Interdisciplinar em Artes pela UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia), canta, faz teatro e é DJ. Laryssa, a Ayo, canta desde a infância, compõe e toca violão. Já Natigrê sempre foi poetisa e em dado momento da vida começou a sentir a necessidade de musicar suas poesias.
“Não é novidade o que o Estado faz com o povo preto. Hoje eu acordei, tô castelando desde muito, muito cedo a sabedoria que dona Maria tem. Passa a noite acordada pra ver se seu filho vem. Será que ele vem?”
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Por ter expandido sua atuação durante o período da pandemia, a maioria das apresentações foi em formato de live nas redes sociais. Atualmente, já vem realizando shows presenciais. “Tem sido um impacto muito positivo para nós, porque a gente aprendeu a se amar agora. A gente sempre achava que a gente tinha problemas, dificuldades para conseguir fazer as coisas, mas em determinado momento a gente decidiu que a gente é foda e foi nesse momento que virou a chave na nossa mente.”
Suas letras denunciam a violência, de maneira geral, contra o povo preto e as mulheres, especialmente periféricas, e o genocídio da juventude preta. Relatam uma realidade comum nas quebradas brasileiras: a mãe preta em casa à espera do retorno do filho com vida. Contudo, possuem músicas ainda não lançadas que falam de amor também: “A gente tem que estar em todos os lugares, tem que falar de tudo, por que o mundo já é muito violento com a gente.” Além disso, buscam mostrar que a criminalidade não é único caminho possível para os jovens marginalizados.
Sua segunda música, Não tem final feliz, vincula o período escravocrata brasileiro com o atual cenário de violência e de assassinatos cometidos por policiais e o respaldo estatal com esses crimes e convoca os oprimidos a se organizarem:
“Caminhos da revolução precisam ser tomados agora. Juventude organizada para tomar rédea da história”.
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Como jovens negros, LGBTQIA+s e periféricos, entendem que essas características influenciam completamente suas músicas, quer seja na melodia, no swag, etc. Acreditam que a música não é só para entreter, mas para causar nas pessoas impactadas por ela a vontade de mudar suas realidades, além de se sentirem representadas. Veem como fundamental a ocupação dos espaços artísticos e culturais por populações oprimidas.
"Nosso principal problema é investimento, porque ninguém quer investir em uma coisa que fala contra o Estado que oprime. Quem investe em nós são nossas próprias pessoas.”
Definem seu público como underground, composto principalmente por ouvintes que estão vinculados pessoalmente com os artistas. Na região Itabuna- Ilhéus já integraram a organização de vários eventos, como o Farofada Underground.
Inocência Ceifada, sua última música lançada aborda o sofrimento e a revolta de uma vítima de estupro. Segundo dados do Fórum Brasileiro da Segurança Pública, em 2021, a cada 10 minutos uma mulher foi estuprada e a cada 7h, ocorreu um feminicídio.
Ouça no spotify:
“Só ela que vai sentir
quando não conseguir dormir,
quando tiver medo de sair,
quando não tiver para onde fugir,
por que os anos passam,
mas a lembrança continua ali.
Vai passar sufoco!
Aqui é sem pano pra Jack escroto...
Te pego e lanço do alto morro,
te dou uma facada, pedrada na cara
e arranco seu olho.
Nem tente vir pra cá de novo!”
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Helenna Castro é Comunicadora Popular e integra o Coletivo Brasil Vermelho.
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